Nuno Pimentel
Lugares de passagem
Nascido em Lisboa, o mais novo de seis irmãos. Pai engenheiro de profissão, músico amador, amante de música e de natureza, animador de tertúlias musicais e observador de pássaros. Mãe professora de música, para bailarinos e técnicos de rádio, animadora musical de escolas e sessões públicas. Todos os irmãos ligados ao cinema, arquitectura e música... e eu tornei-me geólogo.
Férias na Praia das Maças, entre praia, bicicleta e rochas na maré vazia. Azenhas do Mar e Praia da Aguda mais tarde. Juventude com reuniões, grandes amigos e acampamentos na Praia da Ursa. Viagens, muitas viagens, a países longínquos e com nomes pouco óbvios, sempre de mochila e sem marcações. Himalaias, Andes Sahara, montanhas, vulcões e desertos, florestas, templos e madrassas.
Professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa desde 1987. Grandes professores tive, e alunos, muitos alunos com quem fui aprendendo a ensinar.
L e r
Textos vários, uns publicados, outros não.
Em comum, olhares sobre a Terra e a Paisagem.
A PAISAGEM
O que é uma Paisagem? Desde miúdos, estamos habituados a passear, a ir a lugares
diferentes, a olhar para paisagens, umas mais urbanas, outras mais naturais, mas sempre
interessantes… Já mais crescidos, começámos nós a procurar as nossas próprias
paisagens, aquelas que nos atraem, as que nos surpreendem ou nos encantam. E agora,
estamos talvez em condições de levar os nossos filhos ou os nossos alunos a esses
lugares e dizer-lhes – olhem que bela paisagem! Mas como podemos nós aproveitar
tudo isto, para falar de Geologia?
UM LUGAR IDEAL
P'RA MORAR
Ao longo dos tempos pré-históricos, as comunidades humanas foram vivendo em ambientes naturais, aos quais se foram procurando adaptar. Durante milénios, cada grupo de pessoas procurou instalar-se em áreas onde os recursos naturais lhes permitissem viver o seu dia-a-dia e desenvolver as suas atividades quotidianas. Do mesmo modo poderemos olhar para algumas comunidades atuais ainda muito ligadas ao espaço natural, como é o caso de áreas extremamente inóspitas (nos Himalaias ou nos Andes, por exemplo) ou tecnologicamente pouco desenvolvidas (no interior de África ou da Ásia, por exemplo). Ao buscarmos em todos esses assentamentos, passados e atuais, as razões para a sua localização, provavelmente encontraremos fortes condicionantes no espaço natural em que se inserem, incluindo aspetos relacionados com a paisagem e também com a disponibilidade de recursos geológicos.
SEM ROCHAS
NÃO HÁ BITOQUES
Ao entrarmos num restaurante ou numa qualquer tasca de bairro para comer um bitoque, estamos longe de imaginar o quanto a Geologia está na base desse ato. Aquele bife só existe porque existiram antes as plantas que aquele animal ingeriu (direta ou indiretamente). Aliás, também as batatas fritas ou o arroz que o acompanham, provêm naturalmente de plantas que cresceram num solo. E já agora, o próprio ovo provém de uma galinha que terá comido milho ou outros cereais, também eles proveneintes de plantas de um qualquer campo agrícola dependente dum solo que a mão humana provavelmente trabalhou e regou durante anos a fio.
NATUREZA e RECURSOS GEOLÓGICOS
Estamos habituados pensar na Natureza, como sendo o conjunto dos animais e das plantas que aparecem nos documentários… ou que apreciamos quando vamos passear para o campo ou para uma montanha. Mas em geral não nos lembramos que esses animais e plantas vivem num ambiente natural, numa paisagem e num território que é, antes de mais, um território físico… e também ele NATURAL … constituído pelas rochas que pisamos. A Natureza é, portanto, tudo o que nos rodeia quando saímos de casa, quando deixamos as nossas ruas e cidades e vamos para os chamados “ambientes naturais”. E aí vemos relevos, montes e vales… e rochas, muitas rochas. Muitas vezes pensamos também em Natureza como algo “intocado pelos humanos”, esquecendo-nos de que nós, os seres humanos, também fazemos parte dessa Natureza. Assim sendo, naturalmente interagimos com os outros elementos, com os animais, as plantas, o ar e a água… e as rochas.
ENERGIA, GEOLOGIA
e SUTENTABILIDADE
A Energia que usamos no nosso dia-a-dia enquanto sociedade, para fabricar, produzir e transportar, está em muito casos, relacionada com os Recursos Geológicos. Os recursos energéticos mais conhecidos são seguramente o Petróleo e o Gás, existentes em profundidade e explorados para produzir combustíveis ou também electricidade. Estamos a falar de Recursos Geológicos Não-renováveis, porque estão a ser explorados a uma velocidade muito maior do que aquela a que se formaram. A solução para a sua Sustentabilidade, está em usar menos, em usar alternativas renováveis, em reciclar e reutilizar, na chamada “economia circular”. Se tivermos essa capacidade, enquanto sociedade, tudo será melhor… E há um Recurso Geológico que é inesgotável - a Paisagem. Uma montanha, uma arriba, um vale, estão ali há milhões de anos e nós podemos disfrutar dela por toda a nossa vida.
LER A PAISAGEM
Qualquer abordagem de Geodiversidade deve estar enraizada no terreno, pois é aí que tudo começa e se encontra na sua plenitude. As questões de escala espacial apenas no campo podem ser devidamente apreendidas, estando no local, percorrendo-o a pé, de carro ou simplesmente com o olhar. Nenhuma fotografia, mapa ou suposta “realidade virtual” pode substituír a presença física num local ao ar livre, onde se encontram os materiais a abordar. A distância percorrida até lá chegar, o tempo decorrido, o tempo que faz ou ameaça fazer, tudo isso são já elementos que contribuem para a relativização, consciente ou não, da nossa dimensão perante a Paisagem que vamos observar e os diferentes elementos e escalas com que iremos lidar.
NATUREZA E GEOLOGIA
NA IDADE MÉDIA
Uma síntese comentada das principais ideias existentes na Idade Média acerca do funcionamento da Terra. Essas ideias são enquadradas no contexto histórico e cultural, procurando evidenciar o modo como os sucessivos eventos e fases históricas influenciaram a transmissão e evolução das mesmas. Constata-se uma continuada tensão entre as observações naturalistas e a procura de interpretações conformes à doutrina vigente em cada momento. Ainda assim, é notorio que já na Idade Média, muito antes da chamada “Revolução Científica”, diversos pensadores procuraram olhar, conhecer e explicar as características e processos do planeta em que habitamos.
DIÁLOGO
ENTRE O SOL E A TERRA
As paisagens que vemos, na sua parte física e material, geológica e terrena, são o que vemos de uma superfície que resulta da lenta e continuada inter-acção entre a força exterior do Sol e a força interior da Terra. Esse diálogo ou bailado permanente entre opostos, actua na vertical, em cada ponto da superfície terrestre, moldando-a. E é nesta superfície que nós nos colocamos, nos movemos ou paramos, nos olhamos e sentimos. (Diálogo com Marta Wengorovius, Escola Nómada)
DIÁLOGO (PARTE DOIS)
O Tempo é contínuo, mas o Registo geológico não. Na Música, as pausas são pedaços de suspensão ou silêncio, na Geologia estão representadas pelos hiatos ou por simples superfícies a separar camadas sucessivas. O Tempo está sempre a funcionar, à nossa volta e dentro de nós. (Diálogo e Exercícios da AULA na Casa da Cerca, Almada)
DESERTO, SAL e ÁGUA
No meio do deserto do Saara há uma mina de sal. Sal que ali foi deixado há milhões de anos quando o mar cobriu o Norte de África, sal que desde há séculos é explorado artesanalmente e distribuído por toda a região. Nas minas de sal de Taoudenni, no Mali, dezenas de pessoas trabalham para escavar por baixo da areia o sal que depois é carregado em grandes placas que albardam os camelos que ali o vão buscar. Desde há séculos, caravanas de camelos saem de Tombouctou e dirigem-se para Norte, onde recolhem o sal e o trazem de volta, num trajecto que demora duas semanas para cada lado. Fui até meio caminho e voltei - 500 km de camelo, duas semanas, muito deserto e pouca água.
O u v i r
Bloco de Notas - Antena 1
V e r
Vídeos no terreno
FOTOGRAFIAS
Se uma árvore caír numa floresta remota, haverá Som ?
Se uma paisagem não fôr olhada e sentida, ela existirá ?